No Centro-Oeste brasileiro não há praias à porta de casa, mas Mato Grosso do Sul fez de seus rios de águas claras a atração mais famosa. A 300 quilómetros da capital, Campo Grande, Bonito repousa sobre um mundo subterrâneo aquático que se infiltra por fraturas de rochas e retorna à superfície em forma de nascentes e rios.

Prepare-se para conhecer águas cristalinas em cursos que parecem efeitos exagerados daqueles programas de tratamento de imagens. Localizada na Serra da Bodoquena, essa região turística do oeste do estado de Mato Grosso do Sul é formada também por destinos vizinhos como Jardim e Bodoquena, cujas atrações incluem grutas, cavernas e uma sequência surreal de rios que convidam a banhos demorados.

A atração mais popular de Bonito é a Gruta da Lagoa Azul, uma lagoa de mais de 80 metros de profundidade com águas de azuis intensos, efeito causado pela entrada da luz por uma boca de 40 metros de diâmetro. Para chegar a esse salão de 65 mil anos e espeleotemas impactantes é preciso encarar uma trilha curta, seguida por uma escadaria de pedras que rasga a colina de acesso. Diariamente, apenas 305 felizardos são autorizados a visitar esse frágil Monumento Natural, onde se anda sobre plataformas que circundam a lagoa fechada para banho desde o início dos anos 90, quando fósseis de animais pré-históricos foram encontrados.

Segundo a Sociedade Brasileira de Espeleologia, Mato Grosso do Sul está entre as dez regiões brasileiras com maior concentração de cavernas. São 172 em todo o estado, 67 delas só em Bonito. Por isso, a parada seguinte é na Gruta de São Miguel, a cinco quilómetros da Lagoa Azul. Com acesso seco e interior iluminado artificialmente, permite caminhar por formações como coralóides, estalactites, estalagmites e travertinos. A experiência é como voltar alguns milhares de anos atrás no tempo, num espaço equipado também com viveiro com aves como araras e acesso à caverna por uma ponte suspensa no nível das copas das árvores.

Flutuar

É com colete, máscara e snorkel que se vê o cenário mais impressionante de uma das capitais nacionais do ecoturismo. A região fez fama com flutuações em águas que serpenteiam matas ciliares do Cerrado, chamada a savana brasileira. Após um treinamento rápido e trilha interpretativa, o visitante segue o ritmo do rio, em águas com alta visibilidade, lotadas de peixes e jardins aquáticos.

A trilha mais extensa (2,6 km) acontece entre os rios da Prata e Olho d’Água, na Fazenda Cabeceira do Prata, em Jardim, a 48 km de Bonito, e termina com almoço regional. Para quem quer ir mais fundo (e por mais tempo), o Rio da Prata tem também mergulhos para turistas não certificados. Conhecida como “batismo”, a experiência permite mergulhar até sete metros de profundidade na companhia de um instrutor. “Nossa região se destaca pelas águas cristalinas. No Brasil, dificilmente você vai encontrar rios com pouca profundidade para mergulho e visibilidade superior a dez metros como em Bonito”, explica o chefe de operações do Rio da Prata, João Gomes da Silva. Os tons exagerados das águas devem-se às rochas, que atuam como uma espécie de filtro natural. De acordo com Thyago Sabino, biólogo e gerente da Estância Mimosa, “a formação rochosa de calcário na região confere uma cristalinidade vista em poucos lugares do mundo”.

A Lagoa Misteriosa é uma das experiências mais marcantes. O nome sugestivo vem da época em que um mergulhador fez um arriscado mergulho a 220 metros de profundidade para saber onde iam dar aqueles paredões verticais. Após uma complexa operação de oito horas, Gilberto Menezes de Oliveira retornou maravilhado (e esgotado), mas sem ter encontrado o fim dessa lagoa no interior de uma das cavernas mais profundas do Brasil. Mas para vermos aquele enigma de perto não precisamos ir tão longe. Na Lagoa Misteriosa é possível fazer flutuações e mergulhos que vão de batismos a mergulhos técnicos, em profundidades entre os oito e 60 metros. Seja qual for a certificação, a sensação é como despencar num abismo de águas com fortes tons azulados. São tão intensos que as copas das árvores podem ser vistas a 40 metros de profundidade. Localizada em Jardim, a atividade pode ser combinada com flutuação no Rio da Prata.

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